domingo, 29 de junho de 2008

COINCIDÊNCIAS – Henrique Fuhro, Juliano Wasen


Conheci o Henrique Fuhro em 1984. Na época eu trabalhava na Agência Um, como Diretor de Arte, e o Gordo (era assim que nós o chamávamos) era Executivo de Atendimento.
Imaginar um dos melhores artistas plásticos do Rio Grande do Sul da época trabalhando como executivo numa empresa de comunicação soa no mínimo estranho, hoje. Mas era o que acontecia. Nossa identificação foi imediata. Eu lembro de ir a casa dele e de vê-lo pintando, produzindo enquanto a gente conversava. Ele me contou do seu começo como artista plástico, como gravador. Tempos duros, segundo ele, até vir o reconhecimento de crítica e de público. E um dos grandes responsáveis por este reconhecimento foi Jacob Klintowitz, considerado um dos melhores críticos de arte do país.
E é de Jacob a crítica que eu reproduzo abaixo.

A imagem refletida e a Reflexão sobre a forma.

As imagens de Henrique Leo Fuhro são reflexões multiplicadas em infinitos espelhos paralelos imaginários. A imagem imaginada reflete a imagem e o brilho é intenso e, de alguma maneira, parece que tem um foco que se desloca permanentemente diante de nossos olhos. Certamente estes reflexos multiplicados são os reflexos de uma realidade. Mas não estamos seguros quanto a esta realidade e nos parece que as imagens são mais fortes e potentes do que o estímulo real inicial.Na verdade, não estamos diante do registro de um dado convencional do mundo. Aqui não se trata de mostrar o que já sabíamos, mas de tornar explícito uma imagem intuída.
A intensidade do brilho destas imagens se dá na nossa percepção, pois nela, em sua natureza de Imagem pintada e desenhada não há senão um discreto tratamento.
Observamos è a figuração de um conceito visual que se desvela.Estas imagens de Fuhro são formalizações de uma ampla percepção. Nelas, estão contidas a idéia do homem contemporâneo e de sua possibilidade introspectiva.
E o homem assinalado como um desenho a lápis, o homem registrado como grafite, com a máscara da persona. Este grafite está situado num universo cromático espantosamentereal e severo. E este contraste que torna explícita uma situação e nos demonstra a veracidade do estar no mundo. Uma cadeira, um ser estável, um desenho delicado e sugerido, uma organização cromática determinante. Relações entre o estar e o entorno.
Os elementos do trabalho de Fuhro, uma das mais estupendas meditações sobre a questão do homem no mundo de hoje feitas na arte brasileira, são, como fulcro, os mesmos.
O artista trabalha com o exterior e o interior, a objetividade social e a introspecção, o objeto e o reflexo. O homem mascarado é a imagem mais forte da nossa época.
E o corredor da Fórmula Um e é o uniforme, a roupa esportiva do competidor, a roupa formal do executivo. Máscaras. Constantes gráficas na obra do artista. É possível detectar alguma ironia neste trabalho. Isto depende, talvez, do ponto de vista do observador. Mas o que é impossível não detectar é o prazer da realização, o encanto do ato de fazer, a absoluta integração entre o homem que faz e o objeto criado, entre o olho e a mão que realiza e a forma que se cria diante de nós.
O fazer e o feito estão de tal maneira integrados que a emoção torna o expectador, por sua vez, parte integrante deste momento perceptivo.
O fazer, a obra, o público. Um circuito fechado e, também aqui, uma imagem que se multiplica e constrói a sua própria realidade.
Jacob Klintowitz, 1988.

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